Do Sertão ao Oeste: a dor que não conhece fronteiras
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Igor Hadji, Isabela Lopez, João Guilherme
6/14/20253 min read


A seca não escolhe língua, país ou povo. Em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e em The Grapes of Wrath, de John Steinbeck, acompanhamos duas famílias separadas por continentes, mas unidas por um sofrimento comum: a luta por dignidade em meio à miséria.
A família de Fabiano vive no sertão nordestino, em um cenário duro e silencioso, onde a terra rachada parece gritar por socorro. Já os Joad cruzam os Estados Unidos em busca de uma nova vida, fugindo da poeira e da fome. Nos dois casos, o que marca as histórias é a exclusão social: os personagens são invisíveis para o poder público, tratados como números, descartáveis.
Essas narrativas mostram que, mesmo com estilos diferentes – a linguagem seca de Ramos e o tom cinematográfico de Steinbeck –, a arte tem o poder de denunciar desigualdades. Ao ler essas obras, refletimos sobre como muitas famílias, ainda hoje, enfrentam desafios parecidos: fome, desemprego, falta de acesso à saúde e educação.
Por isso, essas histórias seguem atuais. Ao estudá-las, compreendemos que a seca, quando combinada com a desigualdade social, não afeta só o corpo ela cala sonhos, quebra lares e apaga vozes. E, ao mesmo tempo, nos mostra o quanto é urgente lutar por justiça social.
A seca não reconhece fronteiras linguísticas, nacionais ou culturais: é uma experiência histórica e social que atravessa diferentes tempos e espaços. Essa universalidade se revela nas obras Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e The Grapes of Wrath, de John Steinbeck. Embora separadas por contextos geográficos e idiomáticos — o sertão nordestino brasileiro e o interior dos Estados Unidos durante a Grande Depressão —, ambas retratam a luta de famílias marginalizadas pela ordem econômica vigente, cuja existência é marcada pela escassez, pela migração forçada e pela exclusão social.
Sob a perspectiva da Análise do Discurso (Pecheux, 1983), os enunciados produzidos nessas narrativas não são neutros: estão atravessados por formações ideológicas que revelam a historicidade das desigualdades sociais. O sertão de Fabiano e a estrada dos Joad constituem espaços de resistência discursiva, onde os sujeitos, silenciados pelas instituições do poder, tentam afirmar sua humanidade em meio à desumanização. Essa tensão dialoga com a concepção bakhtiniana de linguagem como prática social (Bakhtin, 1997): o discurso literário torna-se espaço de luta, de vozes conflitantes — a voz da opressão econômica e a voz do desejo de dignidade.
A leitura desses romances também pode ser iluminada pela teoria dos signos de Peirce (1977), para quem todo signo remete a um objeto e a um interpretante. A seca, a terra rachada, a estrada poeirenta não são meras descrições realistas: são signos icônicos que remetem a um real social e histórico, funcionando como metáforas da fome, do abandono estatal e da desintegração do tecido familiar. O efeito interpretativo produzido no leitor ultrapassa o plano estético: leva à reflexão crítica sobre as permanências da desigualdade em nossa sociedade contemporânea.
Do ponto de vista da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino de Língua Inglesa no Ensino Médio, esse trabalho interdisciplinar promove o desenvolvimento de diversas competências e habilidades, como:
● (EM13LGG101) Analisar criticamente discursos produzidos em diferentes línguas e culturas, compreendendo como eles constroem sentidos e representam identidades, valores e visões de mundo;
● (EM13LGG201) Reconhecer relações entre textos literários de diferentes línguas e culturas, considerando temas universais, como desigualdade social e migração;
● (EM13LGG304) Utilizar a leitura de textos literários em língua inglesa (como The Grapes of Wrath) como instrumento para refletir sobre problemáticas sociais globais, ampliando o repertório sociocultural e crítico dos estudantes.
Ao articular essas duas obras, os estudantes podem construir uma visão ampliada de mundo, percebendo que as formas de opressão e resistência não são exclusivas de um povo ou de uma língua, mas expressam contradições históricas partilhadas pela humanidade. Assim, a atividade favorece não só a leitura literária comparada, mas também a formação de uma consciência crítica, como defendem as propostas da BNCC e os pressupostos da Análise do Discurso.
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